Onde estão os espaços livres para que as nossas crianças brinquem? Onde estão os parques ou os campos de jogos? Onde estão as árvores para que as nossas crianças possam subir, ou simplesmente sentarem-se à sua sombra?...
Onde estão os avós? Os tios ou os primos? Onde estão as crianças vizinhas de bairro?
Onde estão os pais?
As creches devem ter uma relação muito estreita com os pais, uma vez que são parceiros na educação das crianças.
Todos os momentos na rotina das crianças são oportunidades de aprendizagem. A alimentação, o sono, o vestir,...
Muitas vezes subvertem-se as prioridades e a creche passa a ser uma "cópia" do que se passa na Educação Pré-escolar. Dá-se ênfase às "actividades pedagógicas" e organiza-se os espaços em função deste aspecto.
Na creche a criança deve dispor de uma liberdade de movimentos muito grande, para que possa explorar o mundo, sempre com o apoio afectivo de um adulto.
Será que as admissões em Creches e Jardins de Infância, legais, particulares ou mesmo pertencentes a Instituições Particulares de Solidadiedade Social, são justas e feitas de modo transparente?
Será que as crianças deficientes têm acesso a estes estabelimentos educativos nas mesmas condições que quaisquer outras crianças?
A minha experiência diz-me que a resposta a estas questões é Não!!!
Creches gratuitas não existem... e Jardins de Infância da Rede Pública de Educação Pré-Escolar são insuficientes, portanto as crianças provenientes de famílias mais desfavorecidas estão em clara desvantagem.
Muitas famílias optam por amas ilegais, que fogem a qualquer controlo - e não são poucas, as que trabalham nesta actividade: são cuidadas em situações de pouca higiene, péssima alimentação, pouco espaço, pouca segurança, já para não falar em pouco carinho e fraca estimulação ao seu desenvolvimento.
As crianças não se podem defender sozinhas - temos de abrir os olhos!
Todas as crianças deveriam ter a possibilidade de ficar com a mãe ou uma avó, ou alguém próximo, que podesse prestrar os cuidados individualizados que são necessários, pelo menos até aos 12 meses, ou mesmo até aos 24 meses. No entanto, a não ser que a família tenha condições para isso, uma avó disponível, por exemplo, contratar uma ama para acompanhar a criança na sua própria casa, é algo dispendioso e, por isso, não ao alcance da maioria das famílias. Então, as soluções mais utilizadas são as amas, que recebem mais do que uma criança em suas casas, e as creches.
As creches, por muito boas que sejam, acarretam diversas dificuldades para as crianças:
têm que se adaptar a ritmos uniformizados que permitam cuidar de várias crianças, da mesma idade, ao mesmo tempo (hora da sesta, hora das refeições, tempos dedicados às sestas e, por último, tempo de simplesmente brincar);
o tempo que os adultos dedicam a cada criança é repartido por todas e, por vezes a sobrecarga de trabalho para cada adulto é tal que a disponibilidade nem sempre é a merecida, pela criança - por exemplo, a hora de mudar a fralda em vez de ser um momento de comunicação visual, tactil,..., é feito de forma mecânica como se de um objecto se tratasse;
existem também os problemas de sáude, como o contacto que as crianças têm com muitas doenças, com meses de vida.
Cuidar de crianças dos 0 aos 3 anos é algo que não é rentável económicamente. Para cuidados de qualidade, para além de espaços físicos adequados, as condições humanas são essenciais: muitos adultos e poucas crianças - quando falo em muitos adultos há que salvaguardar que cada criança não pode estar à guarda de vários adultos, pois o mesmo adulto deve cuidar sempre da mesma criança, por uma questão de um desenvolvimento afectivo equilibrado da criança. Além disso, o trabalho realizado é pouco valorizado socialmente levando a poucas condições como baixos salários e muitas horas de trabalho, entre outros aspectos.
Nas condições actuais é importante que as famílias conheçam bem as condições em que as crianças ficam durante o dia e que possam ficar com elas o mais possível.
Apesar do nosso país viver uma situação economicamente não muito favorável, temos que ter consciência que educação e dinheiro são dois ingredientes pouco compatíveis e que, por isso, a oferta educativa da primeira infância não devia estar nas mãos de particulares que gerem o seu estabelecimento educativo como uma empresa, com fins lucrativos, mas sim sob a tutela do Ministério da Educação. A educação destas idades é uma questão muito sensível da nossa sociedade, e a forma como a tratamos, actualmente, terá os seus efeitos no futuro.
"Pode julgar-se uma sociedade pela sua atitude para com os mais novos, não só... pelo que se diz sobre eles mas também pelo modo como esta atitude é expressa naquilo que se lhes oferece à medida que crescem."
Elianor Goldshmied e Sonia Jackson (1994)
No nosso país, facilmente se constacta que as soluções para as crianças dos 0 aos 5 anos, tanto em termos educativos ou simplesmente de guarda, são caras e insuficientes.
Em termos da Educação Pré-Escolar (dos 3 aos 5 anos), apesar de tudo já muito trabalho foi desenvolvido e muitas coinsciências estão a alerta para a problemática; mas em relação à faixa etária, dos 0 aos 3 anos, verificam-se problemas gritantes: creches, supostamente de qualidade, sobrelotadas- onde é impossível fazer um trabalho individualizado, como exigem estas idades; pessoal pouco qualificado - lembremo-nos da responsabilidade que é termos nas nossas mãos crianças que estão numa fase de desenvolvimento crucial e importantíssima.
Ultimamente, tenho-me questionado com bastante frequência sobre o modo como todos nós, (adultos, sociedade, ou outro nome que lhe queiram dar) tratamos as nossas crianças. Estas questões têm surgido no meu papel de mãe e no decorrer da minha experiência profissional, directamente ligada à primeira infância.
Como mãe deparei-me com imensas dificuldades em conseguir uma solução de guarda, de qualidade, para os meus filhos para poder exercer a minha profissão.
Deparei-me com amas ilegais, creches e Jardins de Infância sem condições.
Como profissional desta área observo estes problemas diariamente e pergunto-me porque é que estas questões não são prioritárias nem debatidas na nossa sociedade.